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15 junho, 2011

The beginning

Sid Vicious


  A escola não é tão legal vista por dentro. Estudar muitas matérias que não te interessam nem um pouco. Essa pressão para passar no vestibular. Pessoas tentando ser alguém aceitável e fazer parte de um grupo. Eu ainda acabo cedendo na hora do intervalo e vou com as garotas ficar sentada nos banquinhos perto do pátio. Apesar de eu achar que a biblioteca seria bem mais interessante. Não é que eu seja antissocial é só que eu não gosto de desperdiçar tempo em conversinhas sem futuro. E eu gosto das minhas colegas. Mas também preciso de espaço. Ás vezes parece que o espaço nunca é suficiente. Ou deve ser porque a gente quer estar em outro lugar. Essa aula de história até que foi boa. Atenas era o lugar. Olho no relógio. Faltam 3 minutos para o break. Tempo de macarrão instantâneo. Eu já terminei os exercícios. Doce tic tac.
_ “Psiu”_ Escuto. Olho para trás e vejo o Cadú levantando as sobrancelhas na minha direção.
  Entendo, pisco de volta e mando o dinheiro para ele. Bom, não vou ter que enfrentar fila na cantina. Quando o sinal toca, acompanho as meninas descendo as escadas. Levo o Retrato de Dorian Gray para ler. Sento perto delas. Acho que entenderam que eu não estou a fim de bater papo hoje. Sento no banco com os joelhos dobrados ignorando as minhas coxas doloridas por causa da aula de dança de ontem. Essa é uma das boas dores da vida. Abro o livro na página marcada. O som de Florence And The Machine embala minha bolha de ar simbólica.
   Hoje o dia está fresco. O sol refletindo entre as frestas das árvores, deixando tudo meio iluminado. Amarelo é energia alegre. Amarelo é luxo. Não posso negar que os tons estão contagiantes. Percorro o lugar com os olhos. No fundo do pátio vejo uns garotos com uns instrumentos, parecendo uma banda mal formada. Espero que valha a pena aposentar os fones pelos próximos minutos.
  Levanto os olhos para reconhecer quem são eles. O cara com a guitarra é o Yuri Amorim. Eca. Criaturinha mais nojenta. É a grosseria em pessoa. Certeza de que toma bomba. Procuro pelo baixista. Geralmente eles são os meus preferidos. Acho que deve ser culpa do Sid Vicious. E ainda tem gente que diz que os baixistas não aparecem. E o que dizer do Sid Vicious? Oi? Porque é o primeiro que me vem à mente quando o assunto é movimento punk. Se bem que nem era ele que tocava na maioria das vezes. Quem se importa? Ele foi uma lenda. Eu adoro Sex Pistols.
   O do baixo está usando óculos escuros. Depois percebo que é o Daniel. Foi da minha turma no oitavo ou no nono ano, não lembro bem. Acho que gostava de Harry Potter. Ou talvez minha mente esteja sendo irônica. Nunca fui com a cara do Daniel Radcliffe. Mas o que lembro mesmo desse outro Daniel é que tirava boas notas e parecia legal na época. Não sei agora. Nunca fomos amigos. Parece que ainda está aprendendo a tocar. Não consigo ver quem é o baterista. Eles ainda não tocaram nenhuma música inteira. Tem mais uns meninos lá, mas não estão fazendo nada. Na verdade só ele brincando com o baixo. É, realmente eles não são uma banda. Minhas colegas nem parecem perceber o que está acontecendo. O Daniel começa a fazer barulho cantando versos do Raul Seixas e eu me controlo para não rir. “ Eu sou a mosca que pousou na sua sooopa”. Aí as meninas finalmente olham pra lá.
_ “Ai como esse Daniel é retardado!” _ a Larissa fala.
_ “Ah qual é? Ficou bacaninha a versão.” _ eu brinco.
  Ela revira os olhos e a Fernanda vomita:
_ “Esquisito.”
  Dou de ombros. Eu gostei. Eles começam a tocar de verdade. Agora com mais uma guitarra e o Marcelo no vocal. O Cadú chega com o meu lanche.
_ “Hey you, meu chuchu. Não sei como você consegue tomar essa coisa.”
- “Hey guy. Acredite meu chá é bem melhor que o seu refri câncer. Valeu, senta aí.” _ eu falo_ “Você é amigo deles né?” _ Faço um sinal apontando para os garotos.
_ “Aham. To indo pra lá. Vamos?”
  Lembro que ainda tenho que passar na secretaria para buscar meu boletim antes que comece a próxima aula.
_ “Não dá. Deixa pra próxima.”
 Pisco e saio em direção à secretaria.
  Chego atrasada na aula. Nem tem importância. O pessoal da comissão de formatura está organizando e recolhendo o dinheiro para um churrasco. Último ano, por favor, acabe logo! Não vejo a hora de ir embora desse lugar. Universidade rima com liberdade. O que me dá crises do tipo você-deveria-estar-estudando-mais! Depois de uns dois suspiros a crise passa. Comodismo = inércia. Tenho que parar de procrastinar. Sento no meu lugar. Viro de lado e peço para o Cadú a pasta com os desenhos dele para analisar. A cada dia ele desenha melhor.
_ “Ei, já me cansei dessa euforia com a formatura.” _ ele diz.
_ “Eu também. Nem estou a fim de ir nesse churrasco. Eu queria estar agora na era disco” _ Começo a cantarolar baixinho enquanto balanço os ombros _ " Keep it comin' love, keep it comin' love Don't stop it now, don't stop it, no no "  Eu adoraria se a minha vida fosse um musical.
Ele ri e fala:
_ “O Daniel disse que só vai se tocarem MPB lá.”
_ “Nesse caso eu também iria.” _ digo enquanto folheio os desenhos.
MPB. Hum. Simpático esse Daniel. Mas por que o Cadú está me falando dele? Lembro no ano passado, uma vez depois da aula de inglês no curso. Eu estava conversando com a Natália. Na época ela ainda estava estudando na mesma escola que eu, só que já no último ano. E eu era apaixonada pelo Nicholas. Quando eu lembro sinto até vergonha. Ele era o meu melhor amigo. E eu sabia de vários rolinhos dele da faculdade. Morria de ciúmes por dentro e não dizia nada. Afinal, eu era “irmãzinha” dele. (Inserir virada de olhos aqui). Até que um dia ele percebeu isso e começou a brincar comigo.
_ “Ele é seu namorado?” _ a Natália tinha me perguntado.
_ “Não! Ele é meu melhor amigo.” _ Respondi.
_ “Ah, fala sério Valquíria! Vocês sempre saem juntos. Ele te busca em todo canto. Seu celular não para de tocar. E adivinha quem é na linha? Você fica toda boba falando dele.”
_ “Natália!”
Ela me olhou super cínica. Admiti:
_ “Talvez eu tenha uma quedinha por ele.”
_ “Quedinha? Isso está mais para um tombo feio.”
_ “Você é muito má!”
_ “Olha Val, por que dessa vez só para variar você não tenta gostar de alguém da sua idade, hein?”
Eu nem respondi nada. A minha mente só sintonizava a frequência Nicholas. E pensar que quando eu o esqueci ele veio atrás de mim. Tolinho. Não brinque com ninguém um dia você será o brinquedo. "Você não soube me amar". A Natália continuou:
_ “Sabe, ontem eu estava reparando no Daniel. Ele não é da sua turma, mas parece ser um cara legal. Diferente dos outros meninos. Acho que vocês combinariam juntos. Confessa que você adora caras intelectuais!”
_ “Ai para com isso Nati. Eu não quero ninguém tá. Sua boba.”
Estranho eu não ter esquecido isso. Escrevo no meu caderno: “Caiu uma mosca na minha sopa. E agora José? O que fazer com ela?” Ai que besteira. Nada a ver. Entre as folhas encontro um bilhete dizendo: “ Eu te amo irmã mais linda do universo. Salvou minha vida. (De novo.) Beijo. Bia” Ai que lindo! Nessas horas até me esqueço do tanto que a Bia pode ser chata.
  Mas ontem foi épico. Eu estava no meu quarto terminando de montar a paleta de cores para montar um novo scrapbook. Super feliz porque tinha conseguido impedir que minha calça velha de ioga fosse para o lixo. Minha mãe parece que não tem noção do tempo que levou para ela ficar assim toda manchada de quando eu tiro o excesso de esmalte ao redor das unhas com a espátula e passo no tecido. Ela é muito confortável. Não é preciso nem usar calcinha. Aí a Bia entrou chorando desesperada. Fiquei preocupada. Imaginei mil e uma coisas que poderiam ter acontecido. Mas não estava entendendo porque ela estava usando uma touca no cabelo. Entre soluços ela tentou explicar, de um jeito bem Bia é claro:
_ “ Eu arruinei a minha vida. Eu só queria realçar meu estilo!”
_ “Não me diga que você”_ apontei para a touca.
_ “Ficou horrível!” _ ela choramingou soltando o cabelo. O lindo cabelo comprido se foi. Estava todo torto. E a franja no meio da testa. Se ela não estivesse com aquela carinha de filhotinho sem dono eu teria disparado a rir.
_ “Eu joguei todo o cabelo para frente e cortei. Depois abaixei a franja e mandei a tesoura. Só que quando levantei a cabeça ela subiu também. Eu nunca mais vou sair de casa.”
_ “Ah, o que é isso Bia. Você só tem 12 anos. Não é possível que até os 18 essa sua franja não tenha crescido!”
Ela disparou um “Não é engraçado!” e saiu correndo. Eu sabia que agora ela não ia me deixar entrar no quarto dela. Aí liguei para o melhor cabeleireiro do mundo (tá, ele pode não ser o melhor, mas é o mais simpático, fofo e querido, ou seja, é o melhor!). Levei a Bianca para o salão e ele arrasou. O cabelo dela ficou demais. Muito mais bonito do que quando comprido. Realçou o rosto dela. Agora a Bia me deve uma. Uma das grandes.

(Continua ou não...)

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17 maio, 2011

Close the door, please


Meu celular toca. Ouço a Lady Gaga me inspirar a dar a resposta perfeita pra quem quer que esteja me ligando: I’m still in love with Judas baby! Essa mulher pode ser louca e tudo mais, só sei que ela tem o poder de me animar. Já se sentiu como se em nenhum segundo você conseguisse ficar em paz? Tem momentos na vida em que parece que em tooodo lugar estão te observando. Pais , irmãos, professores, chefes, amigos, inimigos, colegas, conhecidos, porteiros, vizinhos e outros seres.  Radares, câmeras, telefones, celulares, facebook, twitter e outras drogas da vida. Enfim sós! Quem nunca desejou ouvir isso atire a primeira pedra. P-r-i-v-a-c-i-d-a-d-e! É tudo o que mais quero pra hoje. Desligo o celular. Sinto algo tão bom.
  Uma vez eu decretei que eu teria um dia da semana sem comunicação com o mundo exterior. Nem mesmo online ou por telefone. Aí senti um pavor! Parecia que o mundo inteiro estava bombando ou se acabando e eu lá de mãos atadas sem participar do auê. Estava ficando pra trás. O “café-com-leite” da brincadeira. Meditação te faz se sentir toooda espiritual e tudo mais, mas falando sério, não dá mesmo pra ficar escutando música celta e bancando a zen o tempo todo né.
  Mas sendo suuuper sincera acho que só tem uma coisa no mundo que me faz parar no tempo. Ou melhor, uma pessoa. E talvez nem pra ela eu admita isso. Rá- não mesmo! Já pensou eu dizendo: “Daniel, meu mundo pode girar por muitas coisas, mas ele só para por você” ? Ai que patético! Parece mais uma das cantadas típicas de um fora na seção de micos da Capricho no blog do Jerri.
  Então vou aproveitar a minha gripe, ou melhor, a minha manhã. É tão feliiiz ficar doente só por um dia. É oficialmente o dia mais perfeito pra deixar a preguiça tomar conta. Matar aula, os pais preocupados mas nem tanto, os amigos solidários, mimos e mais mimos. Sem contar que você pode brincar de voltar no tempo passando a manhã toda de pijamas, enrolada no edredom na frente da TV assistindo desenhos. Se bem que eu nem tenho mais paciência pra assistir desenhos, a não ser The Simpsons ou Naruto. Então vou escolher uma das séries do estoque, Glee, Pretty Little Liars, Gossip Girl ou qualquer outro lixo teen reciclável, ou então rever os melhores episódios de Friends. Ai começo a me sentir superficial. Melhor escolher algum filme europeu, curta existencialista ou de filosofia oriental, nada de cultura americana ou consumismo maníaco. Que trágico! Isso não deixa de ser preconceituoso. Afinal, todas são expressões do comportamento humano dignas de serem analisadas né?
   Acho que eu li muito Alice no País das Maravilhas. Estou igualzinha a Alice. O tempo todo pensando coisas e discordando de mim mesma. Decretando vontades e me aconselhando. Aliás, sou uma ótima conselheira. Poderia até ser uma boa psicóloga um dia. Só que não sigo nada do que digo. Estou na verdade com tanto sono. Acabei esquecendo o outro efeito de estar com gripe e tomar analgésicos. Sono profundo do tipo pedra turning on. Eles fazem seus pensamentos desabarem em um efeito dominó que te derruba.  Ah não, em sonos pedra nem temos sonhos...
Bocejo, bocejo, bocejo... ZZZZZzzzzzz...

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06 março, 2011

Bonecas também choram

Ouça enquanto lê.




Bonecas também choram.
  
Estava passando pelo corredor da biblioteca. Várias fotos de bebês nas paredes. Uma exposição de uma fotógrafa dizendo que fotografar bebês era como registrar a vida no mais puro sentido. Imaginei essa vida acordando de madrugada chorando com uma fralda suja. Lembrei que a filha da minha prima nasceu no último fim de semana. Caramba, parece que ontem mesmo a gente estava brincando de boneca. Mas  alguém acabou brincando de boneco e carregando uma bonequinha de brinde. Uma que chora e suja as fraldas. Aposto que colocaram essas fotos aqui só pra evitar amassos entre as estantes...

 _ Próximo _falou a moça do balcão.

  Preenchi meus dados para o cadastro na biblioteca e saí correndo para me encontrar com o Dani no café para pegar carona. Ele estava lá sentado divonicamente concentrado lendo o texto da aula passada sublinhando algumas frases enquanto tomava um cappuccino. O notebook aberto, um livro do Karl Deuscth também. Óculos de grau, camiseta com estampa da Amelie Poulain ( Odeio essa obsessão cinematográfica explícita, essa atriz me irrita depois que vi o filme da Coco Chanel.), calça jeans, tênis, bem casual.

_ Onde é que você estava? Te procurei igual louco. Você já ouviu falar em telefone?
_ Ah, é que fui na biblioteca. Você sabe o quanto me distraio com livros_ respondi _ ai tá ouvindo ?
_ Green Day...
 _ Esses caras me irritam. Sério, vamos embora.

  Percebi que não era a música, nem a blusa dele que me irritavam. O Dani tem cheiro de brinquedo novo. De boneca nova. Não que ele pareça uma boneca. Odeio caras com rosto de boneco. Rosto de Ken, cabelo louro, monotonia total, ai lá vou eu pensando de novo em boneca. Aquelas fotos na biblioteca realmente não me fizeram bem. Algumas coisas são processadas de forma errada no meu cérebro. Confesso que o cheiro dele me dá vontade de brincar. Dani, Daniel eu acho que te odeio. Sim, te desprezo do fundo da lente dos seus óculos de grau pretos Wayfarer. Dani, Daniel, não se torne o meu fel, não me faça mandar tudo ir para o hell...





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